A problemática da ocupação e o controlo africanos do arquipélago dá-se num período extremamente crítico da historiografia de Portugal, em que desde 1531 se começa a ter notícias de que a ilha estava na iminência de se perder, dado “ao progressivo controlo do interior (...) pelos africanos, que ao longo do século, procedem à ocupação dos espaços despovoados, mediante operações levadas a cabo fora da intervenção e da direcção das autoridades portuguesas (ICH: p. 110). Essa intervenção é análoga a que se passa no Brasil, com a criação de zonas Estado, denominadas kilombo. Encontramos esse kilombo em S. Tomé com o nome de obô gigi (mata cerrada; bosque, floresta, mato).
Este assunto remete-nos para o enquadramento regional do arquipélago (através da africanização do espaço que, em princípio, devia ter sido exclusivamente povoado com brancos) e a consolidação do espaço económico mundial (funcionando como rota privilegiada quer no comércio com Europa, quer funcionando como laboratório de experiências, para o futuro desenvolvimento do Brasil) e também de certas plantas a serem cultivadas localmente.
É inegável aqui referir que, desde os primeiros tempos, S. Tomé e Príncipe desempenhou uma função primordial, não só no quadro da Expansão Portuguesa, mas sobretudo no alargamento das fronteiras africanas para essa região peninsular e na construção da modernidade, desde logo esboçada através de formas particulares de associação entre BRANCOS, NEGROS e MULATOS e dos sistemas económicos que aí foram sendo instalados([38]).
Analisando o mapa geográfico do mundo português desde a Expansão Marítima a esta data, verificamos que, quer em Portugal continental, quer nos países africanos por este colonizado, incluindo o Brasil, nunca houve uma estratégia pensada no desenvolvimento efectivo do interior. Se as vias férias, as pontes, as estradas, o comércio, a urbanização, o saneamento do meio, a indústria, o transporte, as escolas, as casas de cultura, os aeroportos, etc., a banca, as finanças públicas, e a função pública em geral, tivessem sido deslocados para as localidades do interior, hoje teria sido possível um desenvolvimento mais equilibrado dessas localidades. Ora, a não extensão da administração colonial portuguesa, no passado, para as regiões do interior, terá possibilitado a sua consequente ocupação pelos escravos e populações altamente carenciadas e excluídas de todo o processo de desenvolvimento. Em S. Tomé e Príncipe, esses espaços não passavam de refúgios de escravos e mais tarde ocupados pelos serviçais, onde se refugiavam dos castigos corporais nas roças, designados, localmente, de gabon-fugido.
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