quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Comentário ao artigo "ex-serviçais cabo-verdianos das roças em São Tomé e Príncipe sentem-se abandonados", de Augusto Nascimento


Por: Jerónimo Xavier de Sousa Pontes

Confesso que ainda não adquiri a obra, facto que poderia prejudicar uma análise mais ajustada às preocupações do autor. Entretanto vou tentar cingir-me aos factos, resumidos no Jornal cabo-verdiano, Voz di Povo-Online.com.

A imigração cabo-verdiana para S. Tomé e Príncipe é tida, do meu ponto de vista, como uma imigração forçada, na perspectiva analítica de António Carreira, na sua obra Migrações nas Ilhas de Cabo-Verde.
Sendo forçada essa emigração, tal como a escravatura, há aspectos, do ponto de vista social e humano, cujos vestígios levarão muito tempo a apagar.

A história da emigração cabo-verdiana não pode ser contextualizada, à parte, da dos angolanos, moçambicanos, forros ou dos angolares. De qualquer forma, há uma nítida preocupação do autor em chamar a atenção das autoridades portuguesas sobre a sua irresponsabilidade política, económica e social face à situação. É que quando Augusto Nascimento, segundo Voz di Povo, refere que os cabo-verdianos foram “abandonados”, pergunto: por quem? Não terão ido a São Tomé e Príncipe na condição de cidadãos portugueses, da então província portuguesa de Cabo-Verde?

O que o Primeiro-Ministro de Cabo-Verde, de Angola e de Moçambique devem fazer, estou a opinar, se tiverem audácia política para tal, é instruir o Ministério Público dos respectivos países, no sentido de todos os cabo-verdianos, angolanos, moçambicanos e mulatos não reconhecidos pela entidade paternal portuguesa e os respectivos descendentes, serem reconhecidos cidadãos portugueses e concomitantemente, ressarcidos de todos os anos de sujeição em São Tomé e Príncipe a que estiveram obrigados.

Eu tenho lido muitas preocupações levantadas por Seibert sobre este assunto, rebuscadas em A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER SÃO-TOMENSE: COLONIALISMO, SOCIALISMO, LIBERALISMO E A PERSISTÊNCIA DAS DESIGUALDADES SOCIAIS, de Marina Padrão Temudo e Alexandra Arvéola, “no âmbito do projecto A desintegração das sociedades agrárias africanas e o seu potencial de reconstrução”.

As questões, por estes autores levantadas, ilustram bem o tipo de sociedade que se instituiu em São Tomé e Príncipe, no período pós-colonial. Entretanto discordo do facto de os forros serem acusados de usufruírem de tudo, deixando os outros grupos étnicos na pura marginalidade e miséria. Por isso temos um grande problema a resolver. Em primeiro lugar, o forro não é uma raça. É uma fusão de várias raças e na medida em que se sai das roças e se se embrenha no mundo das cidades, perde-se a estigmatização. O exemplo mais paradigmático desta situação, é a ascensão de um novo grupo sócio-económico, os candongueiros, comerciantes informais. Aí não se distingue o forro do angolar do cabo-verdiano, do mulato, do homem, da mulher. Aí o que fala é a voz do negócio.

Os antigos serviçais foram e estão a ser “abandonados” por uma cultura civilizadora baseada em corrupção dos antigos colonos. Senão vejamos: não sendo rentáveis as roças dos forros, outros até nem glebas tinham, aonde iriam estes buscar os muitos sacos de cacau para vender? Quem lhos comprava? Não eram os comerciantes “brancos” que compravam os contrabandos de cacau e outros produtos provenientes das roças de outros “brancos”?

Demagogicamente, não terão os colonos atribuído aos antigos serviçais cabo-verdianos o “Estatuto de Europeus da Segunda Classe” e simultaneamente terem ensinado aos forros que todos quantos chegavam de vapor eram gabões, gente de nível baixo, indígenas, etc.?

Sabem como chegavam e como eram tratados os tais europeus de segunda pelos patrões?

Na roça Praia-das-Conchas, sede, do Dr. Osório Pinto, em 1967, o meu pai era na altura enfermeiro guarda-livros e responsável pelo armazém. Tinha ordens expressas para dar aos contratados o rancho, já em estado de deterioração. Mas nos dias de visita da curadoria, mandavam esconder os ranchos podres, dando a entender que a roça só dava aos contratados comida em bom estado. Felizmente não assimilei esses ensinamentos do colonialismo.

E os cabo-verdianos que chegavam recentemente, inadaptados ao clima tropical, não era o meu pai quem lhes arranjava os internamentos no hospital, pondo até em risco o seu posto de trabalho? Sabem a que horas saíam do terreiro, sob chuva, de manhã à noite? Sabem quantos morriam? Alguma vez lhes atribuíram galochas ou chapéus-de-chuva?

Na perspectiva de Augusto Nascimento[1], os descendentes cabo-verdianos são cerca de 10 000. Na amostra não foram incluídos os nomes sonantes da política são-tomense como aos do Dr. Carlos Monteiro Dias da Graça, filho de Pai são-tomense e de mãe cabo-verdiana (ocupou várias pastas ministeriais incluindo as do 1º Ministro e candidato Presidencial); O DR.Celestino Rocha da Costa (exerceu várias pastas ministeriais, incluindo a do 1º Ministro); O DR. Guilherme Pósser da Costa (irmão do Dr. Celestino Costa, ocupou várias pastas ministeriais, incluindo a do 1º Ministro, Ex-candidato Presidencial do mlstp/psd); a Dra. Célia Pereira (filha do Dr. Pósser da Costa, foi Secretária-de-Estado); Vítor Monteiro, o meu conterrâneo de Lobata (é um Coronel das Forças Armadas, ex-candidato presidencial; assessor do Presidente da República); a ex-ministra Cristina Dias (foi ministra da Economia), etc., etc., etc. E, se formos às direcções e serviços, empresas, etc., vamos encontrar médicos, enfermeiros, directores, professores, políticos, directores de projectos, militares e polícias. Será que todos eles se transformaram em forros e estão a promover a desgraça dos seus irmãos nas antigas roças coloniais?

Quem tinha a responsabilidade de repatriar os contratados, em tempo contratualmente estipulado, não eram os colonos? Não havia em São Tomé um organismo criado pelo governo colonial para a defesa das causas dos serviçais, a Curadoria? É óbvio que, como são-tomense, houve, no passado, laivos de preconceitos em relação aos outros grupos étnicos, por razões historicamente conhecidas.

Conselhos aos líderes políticos são-tomenses

Tendo sido os cabo-verdianos e outros grupos étnicos “abandonados” em São Tomé e Príncipe pela política colonial de não repatriamento, deverá ser accionado, penso, o mecanismo da atribuição de uma Pensão de Sobrevivência da CGA Portuguesa (art.º 2020º do Código Civil).
Resolvam definitivamente a situação das antigas roças coloniais e dos agricultores
Criem um serviço de deslocação dos técnicos da segurança social, quer para procederem ao pagamento das pensões de Reforma aos que têm direito, quer de uma equipa constituída por médicos e outros agentes sanitários, a fim de prestarem ajuda médica e medicamentosa grátis aos utentes.
Elevem as antigas roças e respectivas dependências ao estatuto de vilas e aldeias. Que seja levando a estes sítios escolas, estradas e indústrias e outros serviços a fim de se minimizar a distância entre o litoral e o interior

Constatação

Vivi, cerca de 9 anos em Cabo-verde. Os cabo-verdianos vividos em São-Tomé e Príncipe, e os respectivos filhos, sem qualquer sombra para dúvidas, são culturalmente cabo-verdianos e são-tomenses. Sofrem, como qualquer são-tomense, as desgraças de são Tomé e Príncipe. Houve casos de inadaptação (agora uma espécie de “crime” na função pública portuguesa), que, mesmo na pobreza em São-Tomé e Príncipe, alguns até regressaram. Cabo-verde de que se quer falar, em comparação com o feudalismo são-tomense da actualidade, já não tinha espaço para os “retornados”, sobretudo em resposta à auto-suficiência alimentar. O obstáculo primeiro era a água e o segundo eram as altas habilitações literárias para competirem no mercado de trabalho. Os que lá conseguiam ficar, tinham as habilitações adequadas ou terão recebido, ad aeternum, ajudas dos familiares na diáspora, do Estado e das igrejas.

Conclusão

Os antigos serviçais de São Tomé e Príncipe e os são-tomenses pobres, no geral, ou ricos como qualquer são-tomense do mesmo escalão social sofrem os mesmos efeitos da crise. Cabe aos Estados minimizarem esses problemas com políticas visando o bem-estar comum.
[1] Augusto Nascimento foi meu professor de História no curso extraordinário nocturno, no 11º Ano, um ex-libris da cooperação portuguesa em São Tomé e Príncipe, devo-lhe o meu espírito crítico e um grande ódio pela corrupção e pelos corruptos.

domingo, 7 de setembro de 2008

As mãos pesadas de Deus (Dĕus ou dĕus, ĭ (a divindade)) na actual economia mundial



Por Jerónimo Xavier de Sousa Pontes

In manibus est victoria
segundo Cíc, a vitória depende de vós!

Todas as teorias económicas falharam. Todos os programas, dos mais ambiciosos até os agora concebidos, falharam. Todos os eminentes cientistas de contas e previsões estatísticas falharam. As mais credíveis universidades do mundo também falharam.

Na guerra, os meios tecnológicos, dos mais arrebatados, nas mãos dos cientistas militares, não lhes estão a servir de nada. Os soldados da NATO caem, condoidamente, diante duns esfarrapados mas determinados talibãs. As melhores e maiores economias do mundo estão impotentes perante as mãos pesadas da natureza que arrombam os diques e devastam tudo quanto encontram pela frente: casas, carros, campos de cultivo, animais…!

Perante o tempo das vacas magras, um Estado rico nega protecção social ao seu cidadão, em nome de negócios. Num só dia, ironicamente, esse mesmo Estado perde milhões de euros no negócio dos petróleos. As economias europeias e americanas estão de rasto. O petróleo não pára de aumentar. Até se pode concluir que o fim está próximo. Mas não está! Os miúdos enfrentam os graúdos porque acham que a moral e a religião já não pertencem a este tempo. Os resultados estão à vista! Os filhos batem nos pais e depositam-nos em lares, quando velhos!

Creio, entretanto, que todos esses problemas da actualidade podem ser evitados em São Tomé e Príncipe. Isto porque temos abundância em luz solar durante todo o dia. Em vez de congelados, passemos a comer mais salgados e fumados. Cozinhar somente o suficiente para cada refeição diária e nada de guardar os restos. Os restos atraem ratos, muitos, muitos, às centenas, aos milhares. À noite, sentemo-nos, e porque não, no quintal à luz de uma tocha e contemos estórias, como no antigamente. Também, na ausência de luz eléctrica, à noite, podemos fazer mais filhos e, durante o dia, ler muito mais: o Bragança, o Jerónimo Salvaterra, o Teles Neto, o Francisco Costa Alegre, o Fred, a São Lima, a Olinda Beja, a D. Alda, o Sum Marky, o Branco, o Sacramento Neto, o Manu Barreto. Ainda podemos ler o Sousa Tavares, o Seibert, o Augusto Nascimento, a Inocência Mata, o Carlos Neves, o Armindo Aguiar e outros tantos e tantos… depois retornemos aos clássicos: ao Caetano da Costa Alegre, Francisco Stockler; Almada Negreiros; Marcelo da Veiga, Herculano Levy; Pinheiro Torres!...

Um país pobre tem que se adaptar às leis da natureza. Os carros de luxo, sem combustível – vai ser um outro problema para a sucata nacional resolver. Vai havê-los aos montes, à venda – quem os quererá comprar, ao fim de uns tantos anos? Vamos, no fim de algum tempo, utilizar mais os pés e a bicicleta durante longas caminhadas. Que fixe!

Na Europa, os europeus que não são nada parvos, já estão a deixar o hábito de andar de carro próprio. A miséria já atinge as classes mais altas e isto também se sente nos pés e nos bolsos. E no estômago? …
As mãos de Deus, no combate à má fé dos homens, estão a galgar terreno. A tragédia vai atingir a todos, os bons e os malfeitores. Mas se quisermos, ainda estamos a tempo de corrigir os males que andamos a praticar! Mais social, mais agricultura e muita literatura e menos egoísmo seria, talvez, a nossa derradeira salvação. Mas não, preferimos ter máquinas de lavar em casa para mostrar os visitantes, do que almejar tê-las ao serviço da lavandaria dos hospitais onde as roupas são ainda lavadas à mão!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Comentário ao artigo, EX-SERVIÇAIS CABO-VERDIANOS DAS ROÇAS EM SÃO TOMÉ SENTEM-SE “ABANDONADOS”

baseado na obra do investigador Augusto Nascimento,
de 16 de Setembro de 2007


Por: Jerónimo Xavier de Sousa Pontes

Confesso que ainda não adquiri a obra, facto que poderia prejudicar uma análise mais ajustada às preocupações do autor. Entretanto vou tentar cingir-me aos factos, resumidos no Jornal cabo-verdiano, Voz di Povo-Online.com.

A imigração cabo-verdiana para S. Tomé e Príncipe é tida, do meu ponto de vista, como uma imigração forçada, na perspectiva analítica de António Carreira, na sua obra Migrações nas Ilhas de Cabo-Verde.
Sendo forçada essa emigração, tal como a escravatura, há aspectos, do ponto de vista social e humano, cujos vestígios levarão muito tempo a apagar.

A história da emigração cabo-verdiana não pode ser contextualizada à parte da dos angolanos, dos moçambicanos, dos forros e dos angolares. De qualquer forma, há uma nítida preocupação do autor em chamar a atenção das autoridades portuguesas sobre a sua irresponsabilidade política, económica e social face à situação. É que quando Augusto Nascimento, segundo Voz di Povo, refere que os cabo-verdianos foram “abandonados”, pergunto: por quem? Não terão ido a São Tomé e Príncipe na condição de cidadãos portugueses, da então província portuguesa de Cabo-Verde?

O que o Primeiro-Ministro de Cabo-Verde, de Angola e de Moçambique devem fazer, estou a opinar, se tiverem audácia política para tal, é instruir o Ministério Público dos respectivos países, no sentido de todos os cabo-verdianos, angolanos, moçambicanos e mulatos não reconhecidos pela entidade paternal portuguesa e os respectivos descendentes, serem reconhecidos cidadãos portugueses e concomitantemente, ressarcidos de todos os anos de sujeição em São Tomé e Príncipe a que estiveram obrigados.

Eu tenho lido muitas preocupações levantadas por Seibert sobre este assunto, rebuscadas em A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER SÃO-TOMENSE: COLONIALISMO, SOCIALISMO, LIBERALISMO E A PERSISTÊNCIA DAS DESIGUALDADES SOCIAIS, de Marina Padrão Temudo e Alexandra Arvéola, “no âmbito do projecto A desintegração das sociedades agrárias africanas e o seu potencial de reconstrução”.

As questões por estes autores levantadas ilustram bem o tipo de sociedade que se instituiu em São Tomé e Príncipe no período pós-colonial. Entretanto discordo do facto de os forros serem acusados de usufruírem de tudo, deixando os outros grupos étnicos na pura marginalidade e miséria. Por isso temos um grande problema a resolver. Em primeiro lugar, o forro não é uma raça. É uma fusão de várias raças e na medida em que se sai das roças e se se embrenha no mundo das cidades, perde-se a estigmatização.

Os antigos serviçais foram e estão a ser “abandonados” por uma cultura civilizadora baseada em corrupção dos antigos colonos. Senão vejamos: não sendo rentáveis as roças dos forros, outros até nem glebas tinham, aonde iriam estes buscar os muitos sacos de cacau para vender? Quem lhos comprava? Não eram os comerciantes “brancos” que compravam os contrabandos de cacau e outros produtos provenientes das roças de outros “brancos”?

Demagogicamente, não terão os colonos atribuído aos antigos serviçais cabo-verdianos o “Estatuto de Europeu da Segunda Classe” e simultaneamente terem ensinado aos forros que todos quantos chegavam de vapor eram gabões, gente de nível baixo, indígenas, etc.?

Sabem como chegavam e como eram tratados os tais europeus de segunda pelos patrões?

Na roça Praia-das-Conchas, sede, do Dr. Osório Pinto, em 1967, o meu pai era na altura enfermeiro guarda-livros e responsável pelo armazém. Tinha ordens expressas para dar aos contratados o rancho já em estado de deterioração. Mas nos dias de visita da curadoria, mandavam esconder os ranchos podres, dando a entender que só davam comida em bom estado. Felizmente não assimilei esses ensinamentos do colonialismo.

E os cabo-verdianos que chegavam recentemente, inadaptados ao clima tropical, não era o meu pai quem lhes arranjava os internamentos no hospital, pondo até em risco o seu posto de trabalho? Sabem a que horas saíam do terreiro, sob chuva, de manhã à noite? Sabem quantos morriam? Alguma vez lhes atribuíram galochas ou chapéus-de-chuva?

Na perspectiva de Augusto Nascimento[1], os descendentes cabo-verdianos são cerca de 10 000. Na amostra não foram incluídos os nomes sonantes da política são-tomense como aos do Dr. Carlos Monteiro Dias da Graça, filho de Pai são-tomense e de mãe cabo-verdiana (ocupou várias pastas ministeriais incluindo AS do 1º Ministro e candidato Presidencial); O DR.Celestino Rocha da Costa (exerceu várias pastas ministeriais, incluindo a do 1º Ministro); O DR.Guilherme Pósser da Costa (irmão do Dr. Celestino Costa, ocupou várias pasta ministeriais, incluindo a do 1º Ministro, Ex-candidato Presidencial do mlstp/psd); a Dra. Célia Pereira (filha do Dr. Pósser da Costa, foi Secretária-de-Estado); Vítor Monteiro, o meu conterrâneo de Lobata (é um Coronel das Forças Armadas, Ex-candidato Presidencial; Assessor do Presidente da República); a ex-ministra Cristina Dias (foi ministra da Economia), etc., etc., etc. E, se formos às direcções e serviços, empresas, etc., vamos encontrar médicos, enfermeiros, directores, professores, políticos; directores de projectos, militares e polícias. Será que todos eles se transformaram em forros e estão a promover a desgraça dos seus irmãos nas antigas roças coloniais?

Quem tinha a responsabilidade de repatriar em tempo contratualmente estipulado, não eram os colonos? Não havia em São Tomé um organismo criado pelo governo colonial para a defesa das causas dos serviçais, a Curadoria? É óbvio que, como são-tomense, houve, no passado, laivos de preconceitos em relação aos outros grupos étnicos, por razões historicamente conhecidas.

Conselhos aos líderes políticos são-tomenses

Tendo sido os cabo-verdianos e outros grupos “abandonados” em São Tomé e Príncipe pela política colonial, de não repatriamento, deverá ser accionado, penso, o mecanismo da atribuição de uma Pensão de Sobrevivência da CGA Portuguesa (art.º 2020º do Código Civil).
Resolvam definitivamente a situação das antigas roças coloniais e dos agricultores
Criem um serviço de deslocação dos técnicos da segurança social, quer para procederem ao pagamento das pensões de Reforma a que têm direito, quer de uma equipa constituída por médicos e outros agentes sanitários a fim de prestarem ajuda médica e medicamentosa grátis
Elevem as antigas roças e respectivas dependências ao estatuto de vilas e aldeias, levando a estes sítios escolas, estradas e indústrias

Constatação

Vivi, cerca de 9 anos em Cabo-verde. Os cabo-verdianos vividos em São-Tomé e Príncipe, sem qualquer sombra para dúvidas e os respectivos filhos são culturalmente cabo-verdianos e são-tomenses. Sofrem, como qualquer são-tomense as desgraças de são Tomé e Príncipe. Houve casos de inadaptação (agora crime na função pública portuguesa), que, mesmo na pobreza em São-Tomé e Príncipe, alguns regressaram. Cabo-verde de que falar, em comparação com o feudalismo são-tomense, já não tinha espaço para eles, sobretudo em resposta à auto-suficiência alimentar. O obstáculo primeiro era a água e o segundo eram as altas habilitações literárias para competirem no mercado de trabalho. Os que lá conseguiam ficar, tinham as habilitações adequadas ou terão recebido, ad aeternum, ajudas dos familiares na diáspora, do Estado e das igrejas.

Conclusão

Os antigos serviçais de São Tomé e Príncipe e os são-tomenses pobres, no geral, ou ricos como qualquer são-tomense do mesmo escalão social sofrem os mesmos efeitos da crise. Cabe aos Estados minimizarem esses problemas com políticas visando o bem-estar comum.
[1] Augusto Nascimento foi meu professor de História no curso extraordinário nocturno, no 11º Ano, um ex-libris da cooperação portuguesa em São Tomé e Príncipe, devo-lhe o meu espírito crítico e um grande ódio pela corrupção e pelos corruptos.

ENFIM, IN DUBIO PRO RÉU

Por: Jerónimo Xavier de Sousa Pontes


O Senhor Presidente da República, Fradique de Menezes, não deveria vir à praça pública NGUGUNAR, pois em vez de estar a governar, andou a fiscalizar as suas obras na Praia das Conchas, onde teve aquela monumental queda, o que não gostei; o seu negócio do cimento e às suas muitas viagens, sendo uma delas, devidamente justificada, por razões de saúde. Entretanto, o colono português, ao sair de São Tomé e Príncipe, deixou hospitais em todas as antigas roças. Agora que as mão pesadas de Deus se fizeram cair sobre Sua Excelência, Fradique de Menezes, Taiwan vai construir um hospital de raiz.

Então, por que razão o monopólio do cimento de Sua Excelência o Presidente da República, Fradique de Menezes, não apresenta uma proposta em adquirir, em hasta pública, a recuperação de todas as administrações coloniais, a fim de as transformar em hotéis de luxo, uma vez que São Tomé e Príncipe está actualmente na moda? Assim valorizávamos o interior e ganharíamos em muito.

Não vêem que São Tomé e Príncipe está agora na moda? Não vêem que, em tão pouco tempo entraram no país cerca de 2500 turistas?

Se o Presidente rico (?), Fradique de Menezes, não consegue implementar projectos do género, que dêem ao grupo Pestana a oportunidade de os realizar. Sabem quantos europeus, africanos e asiáticos cobiçam São Tomé e Príncipe para as suas férias?

Os dirigentes africanos não estão a compreender que irão legar um fardo bastante pesado para os seus filhos e para o povo em geral?

Sobre o Presidencialismo, estou, pela primeiríssima vez, de acordo com o Presidente do PCD, o Senhor Albertino Homem dos Santos Sequeira Bragança. É um regime político que serve aos déspotas (i)luminados. O que isto poderá demonstrar, é um desejo, uma castração “ditatorial” não realizados. Tanto é certo que, para as eleições presidenciais, não só por causa do Presidente Fradique, como para todos os outros presidentes de todos os partidos políticos são-tomenses, que vêem na diáspora uma autêntica ameaça - dão somas altíssimas às associações de são-tomenses para os eleger, pagam-lhes viagens para a tomada de posse. Com esse dinheiro, não estariam a auxiliar os pobres, os doentes mentais, os velhos, os meninos de rua, as mulheres solteiras, os abandonados nas antigas roças coloniais?

Outra questão, desde o momento em que o palácio e as casas de ministros ficaram inabitados, todos os apoios internacionais para essas casas passaram directamente para as particulares, desde as dos simples directores da administração pública, passando para as dos ministros e para a do próprio Presidente da República. Daí que seja imperioso, durante o mandato, os governantes vivessem nas casas do Estado.


A instituição que deveria mediar o conflito entre a Assembleia e os outros órgãos da República, deveria ser a classe castrense.

Os militares africanos, quando juram à Bandeira, dizem que darão a vida à Pátria. Mas se nós perguntarmos a qualquer ministro da defesa, chefe de Estado-Maior General, os oficiais, graduados e praças, o que é a Pátria, a resposta seria: o Presidente da República (quando o quartel estiver farto em tudo); a Bandeira Nacional e a propriedade privada dos senhores da gleba, não é assim? Foi assim no regime do pinto da costa?


O problema zimbabueano, Semelhanças e Diferenças

A questão do Zimbabwe só está a ter esta repercussão, ao nível mundial, porque está em causa, novamente, a questão BRANCO/NEGRO.
Na Europa, alguma vez se aceitou a algum negro ter grandes talhões de terreno de cultivo, com brancos a trabalharem nas suas plantações, sem que estes terrenos tivessem sido transaccionados?

Os Europeus retiraram os terrenos, à força, aos seus legítimos donos. Então a política de redistribuição iniciada por Mugabe está correctíssima, porque negociada com os ingleses que não cumpriram a sua parte do acordo, como aliás já foi, largas vezes, publicitado na comunicação social.

Mas quanto à Democracia, aí É que a coisa muda de figura. Que se saiba, o país mais democrático de África é São Tomé e Príncipe, Em vez de as terras terem sido distribuídas, como aconselharam as organizações internacionais, são os próprios dirigentes que se apressaram em ficar com os maiores quinhões: maiores talhões e maiores milhões do financiamento externo.
Então, não havendo mais nada para distribuir, as pastas de governação passaram a ser, de tal ordem vulgarizadas que, hoje, muitos até se dão ao luxo de declinar convites para cargos ministeriais.

A banalização da classe política são-tomense só demonstra que será muito difícil pensar-se num projecto futuro que não tenda para uma queniazação ou zimbabwezação em São-Tomé e Príncipe.

Quando todos os jovens regressarem ao país, após aturados anos de estudos no estrangeiro, vão precisar de casas para morar. Onde irão viver? É óbvio que vão retirar uma parte das parcelas de terreno deixada pelo Estado colonial e construir as suas casas, de igual modo que muita gente se apoderou das roças Praia das Conchas, Água Izé, Rio do Ouro, Favorita, Ribeira Peixe, Francisco Cabral, Ilhéu das rolas, etc. A não ser que ponham tudo isto à venda em hasta pública, a fim de se render algum dinheiro aos cofres do Estado.

Sobre as casas de luxo, conseguidas não se sabe como, não haverá problemas. Os carros de luxo, também não! Caberá às Finanças cobrar os impostos adequados a estas aquisições, quer os carros estejam guardados nos quintais dos referidos donos, quer não.
Espero que seja aplicado, nestes casos, enfim, IN DUBIO PRO RÉU.
O presidencialismo, na perspectiva são-tomense, com uma DEMOCRACIA ainda em crescendo, com uma opinião crítica ainda em formação; com instituições de saber incipientes, que seja o parlamentarismo, do meu ponto de vista, a dar a voz ao povo. Com o sistema presidencialista, no contexto actual, teríamos, semanalmente, uma remodelação governamental. Da ditadura dos bons já sabemos como é que funciona: quero, faço e mando!

S. TOMÉ E PRÍNCIPE, A ÁFRICA E A CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO ECONÓMICO MUNDIAL

Comentário ao Capítulo da obra A INVENÇÃO DE UMA SOCIEDADE, de Isabel Castro Henriques


A problemática da ocupação e o controlo africanos do arquipélago dá-se num período extremamente crítico da historiografia de Portugal, em que desde 1531 se começa a ter notícias de que a ilha estava na iminência de se perder, dado “ao progressivo controlo do interior (...) pelos africanos, que ao longo do século, procedem à ocupação dos espaços despovoados, mediante operações levadas a cabo fora da intervenção e da direcção das autoridades portuguesas (ICH: p. 110). Essa intervenção é análoga a que se passa no Brasil, com a criação de zonas Estado, denominadas kilombo. Encontramos esse kilombo em S. Tomé com o nome de obô gigi (mata cerrada; bosque, floresta, mato).

Este assunto remete-nos para o enquadramento regional do arquipélago (através da africanização do espaço que, em princípio, devia ter sido exclusivamente povoado com brancos) e a consolidação do espaço económico mundial (funcionando como rota privilegiada quer no comércio com Europa, quer funcionando como laboratório de experiências, para o futuro desenvolvimento do Brasil) e também de certas plantas a serem cultivadas localmente.
É inegável aqui referir que, desde os primeiros tempos, S. Tomé e Príncipe desempenhou uma função primordial, não só no quadro da Expansão Portuguesa, mas sobretudo no alargamento das fronteiras africanas para essa região peninsular e na construção da modernidade, desde logo esboçada através de formas particulares de associação entre BRANCOS, NEGROS e MULATOS e dos sistemas económicos que aí foram sendo instalados([38]).

Analisando o mapa geográfico do mundo português desde a Expansão Marítima a esta data, verificamos que, quer em Portugal continental, quer nos países africanos por este colonizado, incluindo o Brasil, nunca houve uma estratégia pensada no desenvolvimento efectivo do interior. Se as vias férias, as pontes, as estradas, o comércio, a urbanização, o saneamento do meio, a indústria, o transporte, as escolas, as casas de cultura, os aeroportos, etc., a banca, as finanças públicas, e a função pública em geral, tivessem sido deslocados para as localidades do interior, hoje teria sido possível um desenvolvimento mais equilibrado dessas localidades. Ora, a não extensão da administração colonial portuguesa, no passado, para as regiões do interior, terá possibilitado a sua consequente ocupação pelos escravos e populações altamente carenciadas e excluídas de todo o processo de desenvolvimento. Em S. Tomé e Príncipe, esses espaços não passavam de refúgios de escravos e mais tarde ocupados pelos serviçais, onde se refugiavam dos castigos corporais nas roças, designados, localmente, de gabon-fugido.